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Qual crise?

Estas são conversas de um país que, estando em crise, vive apesar dela. Neste espaço fala-se de um Portugal que ainda consegue ser belo, de um GoCar feito playboy e de uma viagem que sempre quis fazer.



Sexta-feira, 02.11.12

De Castelo Branco ao Fundão

Vista do Castelo - Castelo Novo

 

Castelo Branco é a urbe onde a Beira-Baixa vem às compras. Matei as saudades de bebidas que não encontro em sítios com menos de duas ou três mil pessoas: whiskies americanos, cervejas alemãs e belgas, marcas de gins que fogem às escolhas óbvias. Foi diferente. Na minha rotina lisboeta, seria uma noite como outras, mas na vida que levo há quase um mês, foi diferente. Fez-me voltar às madrugadas de Lisboa por umas horas, com menos gente e mais frio. Depois de rumar, por dois dias, para sul, hoje voltei a essa escalada do gelo que são as viagens para norte, com sol nas costas e os vales das serras a atirarem vento gélido contra mim.

 

Rua Parque do Alardo - Castelo Novo

Chafariz e Pelourinho - Castelo Novo

 

Até ao Fundão, há duas paragens a fazer. 

Uma em Castelo Novo, aldeia típica encerrada no meio da serra, antiquada e bem tratada, com o paladar dos mistérios Templários a darem espírito à bonita forma que tem. Já foi concelho o que lhe comprova o passado histórico. Deixou de o ser, mas mantém-se conselho, uma recomendação que não será frustrada para quem a vá descobrir com mais do que um par de olhos.

Mais à frente, junto à Serra da Gardunha, vem Alpedrinha, maior que a vizinha, e interessante no percurso que se faz na estrada principal, que a rasga ao meio. Apanhar os miúdos a saírem da escola enquanto estou sentado ao volante do Dinis, como hoje aconteceu por lá, é um impressionante fenómeno de estrela rock, com dezenas de putos a aplaudirem-me e a correrem atrás do carro. Mando-lhes um adeus porque não dá para mais. Não posso parar sempre que querem saber sobre a viagem ou sobre o Dinis. Não faria eu outra coisa.

 

Junto à Serra da Gardunha - Alpedrinha

 

E finalmente o Fundão, a terra das cerejas, que tem a tão bonita Serra da Gardunha a olhar para ele, frutuosa nos vários tons de verde que exibe, dos mais claros aos mais escuros, dos castanheiros aos carvalhos. É cidade, mas não tem o movimento de uma. A vida do Fundão teve, como qualquer vida humana, altos e baixos. Começou a crescer com a comunidade judaica que escapou aos Reis Católicos em Espanha, fluxo muito como comum, como já aqui escrevi, nas zonas da raia mais a norte. Caiu, muito, quando a Inquisição se instalou e as perseguições começaram, retirando-lhe todo o dinamismo comercial. Voltou à carga por alturas da governação Pombalina. Tornou à queda com as invasões Napoleónicas e a guerra civil. Agora parece viver numa espécie de paz acomodada, à espera de um abanão que lhe devolva o arrepique dos sinos. Vive entre dois grandes: Castelo Branco, em baixo, e a Covilhã, em cima. É um irmão do meio que saiu com baixa estatura.

 

Igreja da Misericórdia - Fundão

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por Ricardo Braz Frade às 19:03


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