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Qual crise?

Estas são conversas de um país que, estando em crise, vive apesar dela. Neste espaço fala-se de um Portugal que ainda consegue ser belo, de um GoCar feito playboy e de uma viagem que sempre quis fazer.



Sábado, 01.12.12

De Condeixa-a-Nova a Carnide

Igreja da Senhora do Cardal - Pombal

Busto do Marquês de Pombal (cruiosamente com um pombo em cima) - Pombal

Centro histórico - Pombal

 

Acabou Novembro e já ouço falar de se ir cortar o pinheiro para o enfeitar de luzes e cores, junto à porta ou à janela da sala. Lembro-me de em miúdo ir cortar o pinheiro à mata, com um carro e um serrote, e de sentir uma certa cedência ao comercial quando em casa dos meus avós se sofreu o desvio urbano de se comprar um simulacro da mesma árvore. 

A maioria não entende o ritual do enfeite de um pinheiro quando o mês de Dezembro começa a arrefecer a pele e o cheiro do natal se manifesta nas ruas. Percebe-se a incompreensão. A comemoração actual do 25 de Dezembro manda celebrar o nascimento de Cristo, o que em nada está relacionado com o acto de pendurar ornamentos em ramos de uma árvore que é trazida até casa. Faz mais sentido se contextualizarmos. A chamada árvore de natal remonta às festas do sol, e essa ligação está bem presente em toda a luz que a pontua, hoje com a ajuda da electricidade, e todos os objectos esféricos com que a tornamos mais nossa e diferente da de outros.

Esta mania recente de criticar o consumismo natalício tem uma base histórica católica, ou pelo menos cristã, mas já antes disso esta data era festejada, sendo que nesse tempo o destinatário era outro, o sol, ou o sol invictus, o invencível, porque apesar de andar a perder a força desde Junho, começava a recuperá-la nesta altura, no chamado solstício de inverno. Estes dias eram vividos com uma boa dose de festança e de opulência. Não passa de uma opinião pessoal, mas considero que quem vê no Dezembro actual um reprovável capitalismo a aproveitar-se de uma data sagrada, engana-se, porque desde sempre se comemorou a pujança solar com magnificência. Não é de agora. Os romanos, muito antes de sabermos sequer o que era consumo desenfreado e muito antes de Jesus ter pisado a Terra, faziam-no.

 

Largo do Marquês de Pombal - Pombal

Heranças árabes - Pombal

 

Foram um aparte que quis fazer, os três parágrafos de cima. Passei hoje por Pombal, onde o Marquês com o mesmo nome dormiu uns bons aninhos, para depois seguir caminho para uma freguesia do concelho, Carnide. Tenho cá amigos, e neste caso faz sentido chamá-los ao texto porque parte deles emprestaram-me o Dinis. 

Falando de Pombal, é preciso dizer que começam mais ou menos por aqui, na Alta-Estremadura e no tido como Oeste português, os terrenos da Ordem Templária, tornando-se, mais abaixo, Tomar o exemplo máximo disso. São terras de Dinis. E não só. São terras da sua mulher, D. Isabel, a rainha santa, que é causa e consequência de muitos dos nomes atribuídos a algumas povoações aqui perto. Não é por acaso. Há uma relação muitíssimo próxima entre aquilo que eram os Templários e o reinado de D. Dinis, que os safou de morte certa quando, para os encobrir de devaneios papais, lhes mudou o nome para Ordem de Cristo. Lanço, portanto, o desafio: vejam-se a quantidade de lendas, terras, pinhais, castelos templários ou rituais anuais a associados a essa Ordem - a Festa das Cruzes, em Cem Soldos, onde se partem cruzes no final de uma romaria -, que se encontram num espaço de dimensões modestas como é esta parte nortenha da antiga península estremenha somada a certa parte setentrional do Ribatejo. É nestes quadrantes geográficos que conseguimos encontrar um folclore, ou seja, uma cultura unificadora, que mete centenas de aldeias do Centro a marcharem ao mesmo passo.

 

Castelo (à esquerda) e antiga muralha (à direita) - Pombal

Pequena capela decorada - Ranha de São João

Igreja de Carnide - Carnide

Autoria e outros dados (tags, etc)

por Ricardo Braz Frade às 19:28


3 comentários

De Diogo Martins a 01.12.2012 às 23:00

Acho que fui das últimas gerações (ou talvez a última) a apanhar essa tradição de ir à mata, neste caso com o avô, para ir buscar o pinheiro.
Era do que mais gostava no Natal, de isso, e de apanhar o musgo (também na mesma mata) para o gigante presépio que se montava por casa. O avô faleceu e agora não há nada de isso, e o Governo também não ajuda pois já não se pode "caçar" pinheiros nem bravos nem mansos nesta altura do ano. É pena, mas talvez seja por um bem comum...

Bonita terra Pombal, lembro-me vagamente de a ter visitado quando tinha os meus 6 anos a caminho de um destino final esse, que não me consigo recordar. Ficou a memória do castelo...

De Ricardo Braz Frade a 02.12.2012 às 22:18

Por acaso acho que se deveria ir sempre ao corte do pinheiro, nem que haja uma obrigação moral de se plantarem dois por cada um que se corte, para garantir que não ficávamos a zero no futuro.

Assim, como fazemos hoje, perde-se o elo com a natureza.

Grande abraço.

De Inesmp4 a 27.05.2014 às 21:14

Bem a minha familia ainda tem essa tradiçao ( para que saibam eu so tenho 11 anos) de ir buscar um pinheiro ao pinhal e montar o presepio gigante no hall de minha casa.

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